O que significa “enchei-vos do Espírito” – John Stott

E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito… (Ef 5.18s)

A forma exata do verbo plērousthe é sugestiva.

Em primeiro lugar, está no modo imperativo. “Enchei-vos” não é uma proposta alternativa, mas, sim, um mandamento autoritário. Não podemos mais evitar esta responsabilidade, tal como se dá com muitas outras que a cercam em Efésios. Ser cheio do Espírito é obrigatório, não é opcional.

Em segundo lugar, está na forma do plural. Noutras palavras, é endereçado à totalidade da comunidade cristã. Ninguém dentre nós deve ficar bêbado; todos nós devemos encher-nos do Espírito. A plenitude do Espírito não é um privilégio elitista, mas, sim, uma possibilidade para todo o povo de Deus.

Em terceiro lugar, está na voz passiva. O sentido é “deixai o Espírito Santo encher-vos”. Não há nenhuma técnica para aprender e nenhuma fórmula para recitar. O que é essencial é evitar com arrependimento tudo quanto entristeça o Espírito Santo, e ter uma tal receptividade a ele pela fé que nada o impeça de encher-nos. É significante que a passagem paralela em Colossenses diz, ao invés de enchei-vos do Espírito, “habite ricamente em vós a palavra de Cristo” (Cl 3.16). Nunca devemos separar o Espírito da Palavra. Obedecer à Palavra e entregar-se ao Espírito são virtualmente dois procedimentos idênticos.

Em quarto lugar, está no tempo presente. No grego há dois tipos de imperativo, um aoristo que descreve uma ação única, e um presente quando a ação é contínua. Assim, quando Jesus disse durante as bodas em Caná: “Enchei d`água as talhas” (Jo 2.7), o imperativo é aoristo, visto que as talhas deviam ser enchidas uma só vez. Quando, porém, Paulo nos diz: Enchei-vos do Espírito, emprega um imperativo no presente, o que subentende que devemos continuar ficando cheios. A plenitude do Espírito, pois, não é uma experiência de uma vez para sempre que nunca podemos perder, mas, sim, um privilégio que deve ser continuamente renovado pelo continuado crer e pela continuada apropriação obediente. Fomos selados com o Espírito de uma vez por todas; temos necessidade de encher-nos do Espírito e continuar ficando cheios todos os dias e todos os momentos do dia.

 

Postado por Tiago H. Souza

John Stott, o expositor – Por John Piper

Por John Piper

Em 1982, John Stott puniu a si mesmo por seu livro de 1966, Homens Feitos Novos. Foi uma exposição de Romanos 5 a 8. Eu o li em 1967 quando estava acordando para a grandeza das exposições. Ele concordou com uma carta crítica: “Seu livro é como uma casa sem janelas”, o que significa que não tinha ilustrações (Between Two Worlds, 240).

Minha resposta a isso foi, e é: Homens Feitos Novos não precisava de janelas. Foi tudo uma janela.

Eu estava me recuperando dos efeitos destrutivos do tipo de pregação que era 1% explicação e 99% ilustração. Eu nunca tinha ouvido o modo como John Stott pregava (e como ele transformou isso em livros). Foi fascinante. Emocionante. De repente, o significado de frases da Bíblia tornou-se um baú do tesouro a ser aberto.

John Stott - (27 de abril de 1921 - 27 de julho de 2011)

Até hoje, não tenho o menor interesse em assistir a um pregador tomar sua posição no topo da arca do tesouro (fechada) de frases da Bíblia e eloquentemente falar sobre sua vida ou sua família ou sobre a notícia, história, cultura ou filmes, ou mesmo sobre princípios teológicos gerais e outros temas, sem abrir o baú e me mostrar as jóias contidas nessas frases.

John Stott transformou as palavras da Bíblia em janelas da gloriosa realidade, explicando-as de forma clara, convincente, completa, coerente, doce, sem tolices, simples frases em inglês.

Para Stott “a verdadeira pregação cristã deve ser expositiva. . . “

“Exposição” refere-se ao conteúdo do sermão (a verdade bíblica) ao invés de seu estilo (um comentário em execução). Expor a Escritura é trazer o que está no texto e expô-la à vista. O expositor abre o que parece estar fechado, deixa claro o que é obscuro, desvenda o que está atado, e desdobra o que é bem embalado. “(Between Two Worlds, 125ff)

Sim! Era disso que eu morria de fome e nem sabia. Incrível! Alguém está me dizendo o que significam essas frases! Alguém está fazendo brilhar a luz sobre estas palavras. Tem um brilho tão forte que nem me deixa dormir! Estou acordando a décadas por lidar com a palavra de Deus. Obrigado. Obrigado.  Eu nem me importaria se me contasse qualquer história. Eu quero saber o que Deus quer dizer com estas palavras!

E é claro que o Deus quer dizer é incrivelmente importante e glorioso, temível, robusto, chocante, arrebatador e relevante. E as implicações estão caindo em cima de mim a cada minuto, e meu coração está agitado com o choque, o espanto, medo, a esperança, a tristeza, a alegria, ele grita e chora por socorro. Isto é o que eu tinha esperado por toda minha vida. Obrigado, John Stott, por me dizer o que essas palavras significam.

Naqueles dias, eu sabia que não podia pregar. Mas eu sabia que era este o tipo de pregação que eu queria ouvir – e se acontecesse um milagre, e eu me tornasse um pregador – era assim que eu queria pregar. Expositivamente. Articuladamente. Coerentemente. Claramente. Colocando as pessoas de cara com o texto. Destruindo a ignorância e a dúvida. Expressando a verdade e a realidade.

Então, John Stott, estou feliz que tenha pregado e escrito Homens Feitos Novos exatamente daquele jeito. Estou contente por ter pregado a maneira que você pregou. E quando você ouviu o seu “Muito Bem”, ontem no céu, eu não acho que Jesus quis dizer: “Exceto pela falta de ilustrações.”

Fonte: Desiring God

Postado por Tiago H. Souza