O que eu penso sobre a Arte? Tiago Souza

A arte foi criada pelo grande Artista do universo que expressou sua glória na criação e na arquitetura do universo sem mesmo pregar o seu nome com um mega-fone na mão gritando palavras, mas sim pelo fato de criar somente!
A arte foi dada ao homem para glorificar a Deus e expressar o quanto nossa arte é pequena diante da arte do grande Artista. Nossa arte não tem efeitos salvificos, assim como a arte do universo feito pelo grande Artista, Deus.arte_3

A arte expressa a capacidade do homem, feito a imagem e semelhança do próprio Evangelho (Cristo), de fazer o que seu criador faz: ARTE.
Assim, a arte por si só glorifica a Deus não na sua totalidade e mensagem, mas na sua existência, mesmo que esta seja corrompida.
Existe um linha tênue entre arte em sí e o conteúdo dessa arte. Não posso simplesmente negligenciar o dom dos instrumentistas, pintores, poetase atores por mais que estejam em rebelião contra Deus. Então quando vejo um quadro, assisto um filme, aprecio uma dramaturgia estou vendo o dom da pessoa (imagem e semelhança de Deus, ou o pequeno resquício do restou) em prática na criação.

O EVANGELHO, que redimi o artista, tem o efeito de levar o artista ao entendimento que não tão somente sua arte expressa a Glória de Deus, mas que o seu propósito também é este! A morte de Cristo, segundo colossenses 1:15-20, tem o propósito de convergir em Cristo todas as coisas! Todas as moléculas, todos os prótons, todas as expressões artísticas, todos os povos, tudo e todos!

A arte não precisa de justificativa por que ela é simplesmente arte. Música é música. O ré maior sempre foi o ré maior antes e depois da conversão do artista. Agora, o artista não! Sua perspectiva do “ré maior mudou quando este soube que o ré maior foi feito para glorificar a Deus! Isso cabe em todas as expressões artísticas, seja elas musicais, arquitetônicas ou plásticas! E termino citando nosso amigo Apóstolo Tiago 1:17: “Toda a boa dádiva e todo o DOM perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.”

Que nossa arte, seja ela qual for, leve as pessoas ao Evangelho.
Que nossa arte seja para a arte do Artista que arquitetou toda a arte para Ele mesmo!

Tiago Souza

Tudo Está Parado, Esperando o Evangelho! Jesus Cristo e o Jota Quest – Tiago Souza

Tudo esta parado  esperando o Evangelho! – Jesus Cristo e o Jota Quest

Ultimamente tenho observado algumas manifestações culturais do meu circulo de vida. É interessante notar as rápidas mudanças cada 10 em 10 anos que a cultura ocidental tem vívido. Costumo dizer que provavelmente minha geração foi a ultima a ter de fato uma infância: jogar pelada, taco, bola de gude, esconde-esconde e outras brincadeiras tão legais que se vier á memória  não cabem nesse texto.

Era super divertido compartilhar figurinhas, colecionar e presentear amigos com revistas “Placar” e jogar bafo com figurinhas de chicletes “Ping-Pong”.

 Mas a grande e trágica conclusão que chego é que tudo isso mudou!

Há dias atrás fui ao Shopping comer um sanduíche. Entrei na fila de uma rede de fast food e observei atentamente ao menu,  escolhi meu saboroso lanche do qual esperei por alguns minutos.

 Bom, até aqui tudo bem. Escolhi, pedi, paguei e estou posicionado ao lado do caixa esperando meu lanche chegar quando começo a ler aquelas laminas de badejas que tradicionalmente trazem curiosidades sobre qualquer coisa que prenda a atenção do consumidor. O titulo da lamina era: “Boas desculpas não faltam para você não ter que compartilhar o seu MILK SHAKE”.

 Uau! Como assim?

Fiquei um tanto assustado na hora. Pedi licença ao balconista e educadamente pedi outra lamina para levar com o propósito de mostrar ao meu pastor. Confesso que fiquei um tanto assustado na hora, não com a mensagem, que implicitamente dizia “seja um egoísta”. Mas com o que a levou a dizer isso, ou como veio a ser manifestado tão imperceptivelmente que sem se quer pudéssemos nos dar conta.

O sistema cria, a mídia vende e a sociedade consome.

 No período que chamamos de pós-modernidade tem um grande pecado de falta de senso da “camaradagem”, da amizade, do amor e da verdade, ora, não é difícil de entender o porquê a nossa geração é marcada de “verdades” e não de Verdade.

Bom, essa percepção me levou a entender melhor a junção entre “Arte e “Cultura”. Os artistas exercem um grande papel na sociedade, não só pela beleza de suas obras, mas pelo o que eles representam para a cultura. Eles são espelhos das mesmas! O artista tem a habilidade de expressar o que ele e o povo estão pensando sobre o “real” do momento e de que forma esse “real” se comunica com todos os outros em volta.

 A arte é a alma do que o povo pensa!

Vamos dar uma olhada lá atrás…

Na idade média era visível a cultura ocidental pensar quase que em sua maioria nas coisas divinas, uma vez que a igreja Católica estava em seu auge e exercendo seu ditatorialismo. As obras artísticas eram expressas com anjinhos e santos com um tom de tranqüilidade e de paz.

Entre a idade média (o período das artes sacras) e a idade moderna temos então um movimento muito interessante chamado Renascentismo, que foi nada mais e nada menos que o resgate das artes da Grécia antiga  em esculturas e pinturas enfatizando o homem como algo a ser notado e admirado.

Deus e o “sagrado” então ficam um pouco de lado para então colocar o “Homem” e toda a sua virilidade e totalidade no centro de suas obras e pensamentos. Nesse período, o renascentismo foi marcado por mudanças da percepção medieval da realidade sob o aspecto espiritual (com Deus ocupando o papel central) para uma percepção em que o homem é a figura central.

Grande parte das artes plásticas desse período foi caracterizada pela percepção da totalidade do homem, o antropocentrismo e pelo senso crítico concernente á religião.

Nesse período temos grandes artistas que expressam esse pensamento humanista como, por exemplo, Michelangelo com sua escultura super-detalhada focando o homem e toda a sua dignidade intitulada “Davi” e Leonardo Da Vinci com o “homem vitruviano.

"Homem Vitruviano" de Leonardo Da Vinci

“Homem Vitruviano” de Leonardo Da Vinci

"Davi" de Michelangelo

“Davi” de Michelangelo

Algumas décadas passam, alguns artistas nascem outros morrem e agora chegamos à Modernidade, a “era da razão”, ou como alguns costumam dizer a era do “Iluminismo” que teve sua grande influência entre os anos de 1720 – 1780.

A maior contribuição para esse período foi à atitude do homem em tirar Deus do centro ( e isso também  foi expresso nas artes plásticas). Assim temos agora a era da mente iluminada pela sua própria razão. O iluminismo nada mais é que a tentativa de emancipar o homem de qualquer pensamento religioso: o conceito da revelação divina, a crítica quanto aos milagres, à deturpação da idéia do pecado original e por fim o “Problema do Mal” (Teodocéia)

Como resultado dessa emancipação tem uma epidemia de declínio moral e existencial do homem moderno. A crise pessoal de cada indivíduo era representada em diversos quadros e esculturas.

 Nesse período o artista plástico norueguês Edvard Munch retrata a sua própria insignificância existencial e infinito desespero no quadro intitulado “O Grito”. O famoso quadro “O Grito” é representado por uma figura andrógena que expressa grande desespero de alma. No quadro observa-se nenhum tom de detalhes, o mar, o céu e o sol estão como em forma liquida, expressando o movimento do ressoar do grito da figura na ponte. O quadro em si representa total desespero do pintor e da era presente.

" O Grito" de Edvard Munch

” O Grito” de Edvard Munch

A mensagem que “O Grito” de Edvard Munch expressa é uma conseqüência drástica do humanismo e antropocentrismo instaurado desde os séculos passados. Quando o homem está no centro do universo só uma coisa há de se esperar:  DESESPERO!

Chegamos então em nossa querida e familiar era “pós-moderna”. Esse período nós a conhecemos bem! Estamos tão casados com ela  que nem nos damos conta que ela nos cerca como nossa própria sombra. O divorcio é impossível.

Na pós-modernidade, onde eu e você estamos no presente momento (a não ser que você esteja lendo este texto anos e anos mais tarde quando ele foi escrito) temos algumas características centrais e únicas da nossa geração:

1-    A crença no divino é aceita, a verdade acerca do divino não.

2-    A subjetividade é cultuada e valorizada, já a objetividade não revela muita coisa. (um ponto de vista é a vista de um ponto)

3-    A verdade foi substituída por verdades isoladas e esta é interpretadas por cada individuo. Assim o Relativismo é a forma politicamente correta de ver e observar qualquer assunto.

Tal como todos os outros períodos, temos grandes artistas que revelam a situação presente. Não poderia escolher outro senão o pintor espanhol Pablo Picasso, que expressa bem o período das subjetividades, das verdades abstratas e do relativismo.

“Guernica” de Pablo Picasso

Onde eu quero chegar?

Como todo bom missionário tento de várias formas observar e entender a minha geração. Como ela pensa? O que ela vende? O que está ouvindo? O que aprendem? Como se comunicam? Quais os seus valores? Quais os seus princípios? Quais são suas crenças?

Assim, para ter um bom aparato crítico para evangelizar na presente era pós-moderna, eu  tento escutar Rádio, ver TV, conversar com todo o tipo de pessoas e fico principalmente antenado nas músicas.

 A Música provavelmente é a manifestação artística mais popular hoje no Brasil e no mundo.

Deixa eu dar um exemplo…

De forma inusitada e de repente vejo na MTV o novo clipe da banda Jota Quest , a canção é “Tudo está Parado”. Simplesmente fiquei atônito! Inconscientemente a canção expressou a real situação da minha geração: imóvel, estática e mais comovente: “esperando uma palavra”.

O interessante é que ao longo do clipe, imagens e palavras como “transformação”, “mudança”, “amor” são expostas na tela enquanto a banda toca e Rogério Faustino canta “Tudo está parado, diz aí, esperando uma palavra”.

Jesus Cristo: A Palavra

Chego á conclusão que se de fato os artistas expressam a real situação de seu período, a banda foi muito feliz em comunicar a falta de algo que nossa geração ainda necessita: JESUS CRISTO!

Bem como observei, as demais manifestações artísticas dos períodos passados, a pós- modernidade chega ao seu ápice clamando desesperadamente por uma “Palavra”.

Obviamente “tudo está parado” quando não há uma VERDADE. Obviamente sem a VERDADE da PALAVRA não há expectativa, esperança para o futuro uma vez que “tudo está parado” e “esperando uma palavra”

 A Palavra que o homem pós-moderno espera: JESUS CRISTO

O evangelho de João logo nos primeiros versículos nos diz “O Verbo se fez carne, e o Verbo andou entre nós”.

 Minha pergunta é: Não seria Jesus (o Verbo, a Palavra) que tanto o Jota Quest anseia em receber? Não seria Jesus Cristo o autor e consumador de todas as coisas dos quais artistas como Edvard Munch esperava conhecer para dar algum sentido na vida?

Não seria Jesus Cristo a pessoa que se revela de forma tão concreta e objetiva que Picasso gostaria de conhecer?

Creio que sim!!!

Jota Quest, Da Vinci, Munch e Picasso expressaram em suas magníficas obras a mesma pergunta: Onde está a VERDADE?

Para um mundo de incertezas, subjetividades e inseguranças, só a pessoa de Cristo pode se revelar como uma PALAVRA, do qual o mundo tanto espera!

Enquanto o homem Pós-Moderno não abandona o tampar de seus ouvidos para ouvir a palavra de Jesus Cristo podemos esperar mais e mais manifestações de grandes artistas talentosos clamarem desesperadamente por algum significado em suas vidas.

O Criador está a espera de sua criatura, e a criatura está a espera de seu Criador

Segue o link do clipe ” Tudo Está Parado, do Jota Quest, que para mim é o grito do homem necessitado de Deus!

A Reforma e o Homem – Francis Shaeffer

Conhecemos, pois, algo deslumbrante a respeito do homem. Entre outras coisas, conhecemos a sua origem e quem ele é – criado à imagem de Deus. É o homem maravilhoso não apenas quando é “nascido de novo” como um cristão, é também maravilhoso como o fez Deus a Sua própria imagem. Tem o homem valor e dignidade em função daquilo que foi originalmente, antes da Queda.
Estava, há pouco, fazendo uma série de preleções em Santa Bárbara, quando me foi apresentado um rapaz viciado em entorpecentes. Era um jovem de semblante delicado e expressivo, cabelos longos e encaracolados, os pés calçados com sandálias, e trajava calça rancheira. Assistiu a uma das preleções e confessou: “Isto é completa novidade para mim; nunca ouvi coisa alguma igual a isto”. Voltou na tarde seguinte e eu o saudei. Olhou-me firmemente nos olhos e disse: “O senhor me cumprimentou de maneira tocante. Por que me tratou assim?” Respondi-lhe: “é porque eu sei quem você é – sem que você foi criado à imagem de Deus”. Em seguida tivemos uma demorada e notável conversa. Não podemos tratar as pessoas como seres humanos, não podemos vê-las no alto nível da verdadeira humanidade, a menos que conheçamos realmente a sua origem – quem são. Deus diz ao homem quem ele é. Deus nos declara que Ele criou o homem à própria imagem. Portanto, o ser humano é algo maravilhoso.
Deus, entretanto, nos diz algo mais a respeito do homem – fala-nos acerca da Queda. Isto introduz o outro elemento que precisamos conhecer a fim de entendermos o ser humano. Por que é, a um tempo, criatura tão maravilhosa e tão degradada? Quem é o homem? Quem sou eu? Por que pode o homem realizar estas coisas que o fazem único, no entanto, porque é ele tão horrível? Por que?
Diz a Bíblia que você é maravilhoso porque é feito à imagem de Deus e degradado porque, em determinado ponto espaço-temporal na história, o ser humano caiu. O homem da Reforma sabia que a criatura marcha rumo ao Inferno em razão da revolta contra Deus. Todavia o homem da Reforma e aqueles que após a Reforma forjaram a cultura do Norte Europeu sabiam que, enquanto o homem é moralmente culpado diante do Deus que existe, ele não é o nada. O homem moderno tende a julgar-se ser nada. Aqueles, entretanto, sabiam que eram exatamente o oposto do nada porque conheciam o sentido de serem feitos à imagem de Deus. Embora decaídos e, a parte da solução não-humanista de Cristo e Sua morte substicionária, iriam para o Inferno, isto não significava, contudo que eram nada. Quando a Palavra de Deus,a Bíblia veio a ser ouvida, a Reforma teve resultados tremendos, tanto nas pessoas individualmente, que se tornavam genuínos cristãos, como na cultura em geral.
O que a Reforma nos diz, pois, é que Deus falou nas Escrituras tanto  acerca do “andar de cima” como do “andar de baixo”. Falou em verdadeira revelação acerca de Si mesmo – as coisas celestiais – e falou em verdadeira revelação a respeito da própria natureza – o cosmos e o homem. Portanto, tinham os Reformadores uma real unidade de conhecimento. Eles simplesmente não tinham o problema renascentista de graça e natureza! Obtinham real unidade, não que fossem mais sagazes, mas porque alcançavam uma unidade cuja base se achava no que Deus revelara em ambas as áreas. Em contraste com o Humanismo de Tomás de Aquino liberara e o Humanismo que o Catolicismo Romano fomentara, não reconhecia a Reforma qualquer porção autônoma.
Não queria isto dizer que não restava liberdade para a arte  ou a ciência. O oposto é que era verdade; havia agora a possibilidade da verdadeira liberdade dentro da forma revelada. Contudo, ainda que haja liberdade para a arte e a ciência, não são elas autônomas – o artista e o cientista também se acham debaixo da revelação das Escrituras. Como se verá, sempre que a arte ou a ciência procuraram fazer-se autônomas, certo princípio sempre se manifestou – a natureza “devora” a graça e, consequentemente, a  arte e a ciência bem logo começaram a parecer destituídas de significação.
A Reforma teve não poucos resultados de tremendo alcance e tornou possível a cultura que tantos dentre nós admiramos afetuosamente – ainda que a nossa geração a esteja agora lançando fora. Confronta-nos a Reforma um Adão que era, usando a terminologia característica da forma de pensamento do século vinte, um homem não-programado – não arranjado como um cartão perfurado de um sistema de computação. Uma característica que marca o homem do século vinte é que ele não pode visualizar isto, uma vez que é de todo infiltrado por um conceito de determinismo. A perspectiva bíblica, entretanto, é clara – homem não pode ser explicado como totalmente determinado e condicionado – posição que forjou o conceito da dignidade do homem. Há pessoas que buscam hoje apegar-se à dignidade do homem, entretanto não têm base conveniente em que se fundamentar pois que perderam a verdade de que o homem foi feito à imagem de Deus. Ele era um homem não programado, um homem revestido de significado numa história de alto sentido, capaz de alterar a história.

Temos, pois, no pensamento da Reforma um homem que é alguém. Vemo-lo, porém, envolvido numa condição de revolta e a rebeldia é real – jamais uma “peça de teatro”. Uma vez que é um ser não programado e de fato se revolta, ele incide em genuína culpabilidade moral. À vista disto, os Reformadores compreenderam algo mais. Tiveram uma compreensão bíblica da obra de Cristo. Compreenderam que Jesus morreu na cruz em função substitutiva e em ação propiciatória a fim de salvar o homem da verdadeira culpa que sobre ele pesa. Necessitamos reconhecer que, no instante em que nos pomos a alterar a noção bíblica da verdadeira culpa moral, seja falsificação psicológica, seja a falsificação teológica ou seja de qualquer outra forma, nosso conceito da obra de Jesus não mais será bíblico. Cristo morreu pelo homem que tinha uma culpa moral verdadeira por ele próprio ter feito essa real e verdadeira escolha.

A Memória é Como o Ventre da Alma – Agostinho de Hipona

A Memória é Como o Ventre da Alma

Encerro também na memória os afectos da minha alma, não da maneira como os sente a própria alma, quando os experimenta, mas de outra muito diferente, segundo o exige a força da memória.
Não é isto para admirar, tratando-se do corpo: porque o espírito é uma coisa e o corpo é outra. Por isso, se recordo, cheio de gozo, as dores passadas do corpo, não é de admirar. Aqui, porém, o espírito é a memória. Efectivamente, quando confiamos a alguém qualquer negócio, para que se lhe grave na memóra, dizemos-lhe: «vê lá, grava-o bem no teu espírito». E quando nos esquecemos, exclamamos: «não o conservei no espírito», ou então: «escapou-se-me do espírito»; portanto, chamamos espírito à própria memória.

Santo Agostinho de Hipona


          Sendo assim, porque será que, ao evocar com alegria as minhas tristezas passadas, a alma contém a alegria e a memória a tristeza, de modo que a minha alma se regozija com a alegria que em si tem e a memória se não entristece com a tristeza que em si possui? Será porque não faz parte da alma? Quem se atreverá a afirmá-lo?Não há dúvida que a memória é como o ventre da alma. A alegria, porém, e a tristeza são o seu alimento, doce ou amargo. Quando tais emoções se confiam à memória, podem ali encerrar-se depois de terem passado, por assim dizer, para esse estômago; mas não podem ter sabor. É ridículo considerar estas coisas como semelhantes. Contudo, também não são inteiramente dissemelhantes.


Reparai que me apoio na memória, quando afirmo que são quatro as perturbações da alma: o desejo, a alegria, o medo e a tristeza. Qualquer que seja o raciocínio que possa fazer, dividindo cada uma delas pelas espécies dos seus géneros e definindo-as, aí encontro que dizer e declaro-o depois. Mas não me altero com nenhuma daquelas perturbações, quando as relembro com a memória. Ainda antes de eu as recordar e revolver, já lá estavam. Por isso consegui, mediante a lembrança, arrancá-las dali.
Assim como a comida, graças à digestão, sai do estômago, assim também elas saem do fundo da memória, devido à lembrança. Então, porque é que o que discute, ou aquele que delas se vai recordando, não sente, na boca do pensamento, a doçura da alegria, nem a amargura da tristeza? Porventura nisto é dissemelhante o que não é semelhante em todos os seus aspectos?
Quem em nós falaria voluntariamente da tristeza e do temor, se fôssemos obrigados a entristecer-nos e a temer, sempre que falamos de tristeza ou temor?

     Contudo, não os traríamos à conversa se não encontrássemos na nossa memória, não só os sons destas palavras, conforme às imagens gravadas em nós pelos sentimentos corporais, mas também a noção desses mesmos sentimentos. As noções não as alcançamos por nenhuma porta da carne, mas foi o espírito que, pela experiência das próprias emoções, as sentiu e confiou à memória; ou então foi a própria memória que as reteve sem que ninguém lhas entregasse.

Santo Agostinho, em ‘Confissões’

 

Postado por Tiago H. Souza

A fé cristã é racional? – R.C Sproul

Por R.C Sproul 

 

A fé cristã é racional?  Com absoluta certeza! Ela é intensamente racional. Agora, já me fizeram a seguinte pergunta: “É verdade que o sr. é um racionalista cristão?” Eu respondi: “De maneira nenhuma! Isso é uma contradição, em termos. O racionalista é alguém que abraça uma filosofia que se contrapõe ao cristianismo.” Portanto, embora um cristão verdadeiro não seja um racionalista, a fé cristã certamente é racional.

O cristianismo é coerente? É inteligível? Faz sentido? Ele se harmoniza num padrão coerente de verdade, ou ele é o oposto do racional — ele seria irracional? Seria o cristianismo complacente com a superstição e concordaria com cristãos que crêem que o cristianismo é francamente irracional? Penso que isso é um fato muito lamentável. O Deus do cristianismo se dirige à mente das pessoas. Ele fala conosco. Ele tem um livro escrito para o nosso entendimento. Quando digo que o cristianismo é racional, não quero significar com isso que a verdade do cristianismo em toda a sua majestade possa ser deduzida a partir de alguns princípios lógicos por um filósofo especulativo. Há muita informação sobre a natureza de Deus que podemos encontrar unicamente porque o próprio Deus escolheu revelá-las a nós. Ele revela essas coisas através de seus profetas, através da história, através da Bíblia e através do seu Filho unigênito, Jesus.

Mas o que ele revela é inteligível, podemos entender com nosso intelecto. Ele não nos pede que desprezemos nossas mentes para nos tornarmos cristãos. Há pessoas que pensam que, para se tornarem cristãs, elas precisam deixar seus cérebros em algum lugar do estacionamento. O único pulo que o Novo Testamento nos chama a dar, não é um pulo no escuro, mas é para fora do escuro, para a luz, para aquilo que verdadeiramente podemos entender. Isto não quer dizer que tudo o que a fé cristã afirma é absolutamente claro no que diz respeito às nossas categorias racionais. Não posso entender, por exemplo, como uma pessoa pode ter uma natureza divina e uma natureza humana ao mesmo tempo, que é aquilo que cremos sobre Jesus. Isso é um mistério — mas mistério não é o mesmo que irracional.

Mistério não se aplica somente à religião. Não compreendo inteiramente a força da gravidade. Essas coisas são misteriosas para nós, mas não são irracionais. Uma coisa é dizer: “Não compreendo, com minha mente finita, como isso funciona.” Outra coisa diferente é dizer: “Elas são gritantemente contraditórias e irracionais, mas vou acreditar assim mesmo.” Não é isso que o cristianismo faz. O cristianismo afirma que há mistérios, mas esses mistérios não podem ser articulados em termos do irracional; se assim fosse, então nos afastaríamos da verdade cristã.

 

Postado por Tiago H. Souza